sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sem lenço e com documento


Não que tivesse intenções de entender de forma mais aprofundada o que foi a Tropicália.  A vontade maior era mesmo ver toda aquela galera de artistas que começou a atuar nos anos 60 e alguns, até hoje, ainda continuam firmes e fortes mandando bala. E a curiosidade era pra ver o documentário de Marcelo Machado já que tem tanto material, tanta informação. Quem sabe, um bom filme de edição.

No jornal O Globo, o bonequinho tá aplaudindo em pé. Bom, mas já cai em cada uma por causa de crítica, que até o diabo duvida. Mas, que tal conferir? E não me decepcionei, foi algo mais do que um bom filme de edição. Imagens trabalhadas com alguns efeitos enriqueceram a plástica discretamente e deram um tom diferente às imagens originais, cedidas por vinte filmes ou mais do que isso. 



Uma produção à altura do que foi esse movimento - não apenas musical, que aflorou em plenos anos de chumbo, quando a “marvada” da ditadura militar  descia o pau na bugrada. Algumas dezenas de entrevistas diretas do túnel do tempo, umas poucas atuais, com trechos curiosos e até bem humorados; outras dezenas de cacos de músicas e umas poucas inteiras. Um material mais do que suficiente para comprovar a efervescência cultural de uma época fértil do cenário cultural brasileiro.


Oiticica literalmente dentro de suas ideais
 Anos que por confluência dos astros ou de qualquer outra coisa parecida fizeram surgir gente muito cabeça boa para nossas artes. Saudável coincidência para a cultura brasileira que pessoas como Caetano, Gil, Tom Zé, Arnaldo Batista, Glauber, Zé Celso, Hélio Oiticica, Nara, Rogério Duprat, Rita Lee, Torquato Neto e mais uma renca de notáveis; tenham sido contemporâneos e trocado figurinhas. Nada de mencionar esses artistas como geniais, porque uma frase emblemática que rola no filme é algo mais ou menos assim: "viva a rapaziada, porque o gênio é chato".
Rogério Duprat
"A Tropicália foi uma síntese de contradições que rolaram na época". Essa (ou quase isso) foi de Rogério Duarte, articulador daqueles tempos, que se autointitulava como “desempresário”, porque o empresário mesmo era o Guilherme Araújo, que sempre aparecia com ideias comerciais para chegar ao grande povo. Pra vender mesmo, sejamos sinceros.
Torquato Neto: capa e praia
E foi assim que (re)vi Elis Regina e Wilson Simonal cantando juntos, Gal, Rita Lee e Nara Leão bem mocinhas e perfiladas uma ao lado da outra, o Chacrinha em seus tempos primordiais, os Mutantes misturando rock com música caipira e Jorge Mautner tentando devolver ingenuidade e timidez pra Caetano.  E tem muito mais coisa no filme, como Nara entoando Carcará com João do Vale, Roberto Carlos nos áureos tempos da Jovem Guarda e Caetano dizendo que nunca gostou desse papo de antiamericanismo, porque ele curtia de montão a música e o cinema do Tio Sam.



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