segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mauricio Malazarte


Lá em terras d'além mar, em 2010, reencontramos um amigo de longa data que hoje mora em Cais Cais, pertinho de Lisboa. Foi a última vez que tivemos uma conversa “tête-à-tête”, onde relembramos de fatos e de pessoas queridas e não-muito queridas, falamos dos  nossos projetos e trocamos informações. Nossas longas conversas com Maurício Leite sempre foram assim desde que esbarramos com ele pela primeira vez nos idos anos 80, aqui em Cuiabá. O interesse pelas artes, especialmente, o teatro, nos aproximou.

O Mauricio tem uma sorte danada em encontrar casas maravilhosas e fazer delas um lugar aconchegante. E um dedo verde poderoso (descuidadamente enfia um galhozinho seco na terra e em alguns dias, asseguro-lhe, é uma planta linda e viçosa). Como ele morava sozinho (um luxo na época), sua casa vivia cheia de novidades cênicas, brinquedos de crianças, livros infantis e seu talento para contar causos. Palco de feitiço coletivo que virou um reduto criativo. E anárquico.

Com eles encenamos “O pequeno Curumim”, peça infantil de teatro de bonecos. Uma turma grande de pretensos bonequeiros, assistidos pelo Mauricio e Carlão (o dos Bonecos). Sucesso de público e crítica. De sua casa saíram performances diretas para o Salão Jovem Arte Matogrossense, pra bagunçar as estruturas. Com ele montamos e produzimos a peça “O Capote”, de Gogol (com adaptação livre nossa e direção de Chico Amorim). Mauricio interpretava o personagem principal, Akaki Akakievitch. Outro sucesso público e crítica. Mas, como as uvas estavam verdes para algumas mentes do teatro local nos anos 80, o projeto vanguardista de O Capote, foi relativamente melado.

Cena de "O Capote"

Atores

Enquanto curtíamos a vida e aprontávamos das nossas, Maurício viajava pelo interior de MT, onde passava longas temporadas. Trabalhou com a Aldeia de Tapirapé, no município de Cascalheira (que na época tinha um prefeito que foi “bonequeiro”, ou melhor, fez teatro de bonecos). E nessa região ele começou a formatar melhor o trabalho que fazia há muito tempo: a divulgação da literatura infanto-juvenil, acompanhada pela capacitação de jovens para a produção artesanal de brinquedos populares, com talos de folhas de buriti (secas).

Trabalho em buriti 

Com o tempo passando ele viu que dava pra ampliar seus horizontes e partiu para outras bandas. Debandou pelo mundo, numa trajetória intercontinental... Na bagagem, levando sempre um volume especial. A mala, a mala de leitura, a mesma que ainda viaja por esse mundão... Azul da cor do mar, ou do céu...


No último domingo aguardamos a reportagem anunciada sobre ele e seu trabalho. Que surpresa, que matéria bem feita, com requintes de produção e edição, com méritos.  E ocupou lugar de destaque: na abertura do Fantástico. Enquanto assistíamos, pequenos comentários que não estorvam quem assiste, surgiram. 


Ele nos apresentou Sylvia Orthof

Nos lembramos, que Maurício começou esse projeto de expansão literária aqui, que trabalhou muito, enfrentando todo tipo de dificuldades. Que foi reconhecido por agências internacionais que apoiaram a continuidade do trabalho, mas que esta terra que é o seu berço (afinal, Três Lagoas, quando ele nasceu, era MT) nunca reconheceu e lhe deu apoio.  Quem atua no setor cultural por aqui sabe muito bem o que é fazer cultura neste pedaço. Na literatura infantil tem uma história que cabe bem pra cultura mato-grossense: o patinho feio.

Nossas conversas hoje se resumem a telefonemas, emails, facebook, skypes da vida... Mas, quando há sintonia, não há tempo e distâncias que não vencemos para continuar as longas conversas.


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