segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Amâncio...

Leviatã, por Elden Ardiente, personagem criatura do livro 

No velório ele foi abraçado e apalpado por um monte de gente bacana. Pessoal de grana. Optou por acompanhar o féretro rumo ao cemitério e lá chegando reparou num sujeito que se mostrava íntimo para com a viúva. O cara estava com uma aparência estranha. Parecia estar com algum problema de saúde e ele, médico, talvez pudesse ajudar. De repente, o outro se afasta da viúva e segue em direção ao portão do cemitério. Caminhou rápido seguindo os passos do sujeito. Antes do portão, o cara dá uma guinada e desaparece atrás de um túmulo, sombreado por uma árvore. Ele se aproxima ligeiro e recebe o olhar raivoso do outro, que estava acocorado naquela posição universal, que muito convém para o intestino finalizar sua tarefa obreira.

É só um trechinho de "Diário de um médico louco", (Editora LetraSelvagem), ficção das boas, gerada pelo médico e escritor Edson Amâncio. Explico-me melhor. O parágrafo acima foi escrito pelo Tyrannus, para reportar uma engraçada passagem do livro. Engraçada pra este que aqui escreve e, talvez, pra vocês que leem, porque tanto pra um quanto pro outro personagem narrado, não tem muita graça não. Não, não sei. Depende de vocês e das experiências em velórios que já experimentaram.

Edson Amâncio e "aquele" escritor russo que fez sua cabeça...
Edson Amâncio é natural de Santos. Neurocientista letrado. Tem estilo mordaz, um tanto quanto agressivo. Fica a impressão de que quem ler o "Diário de um médico louco", talvez titubeie em marcar uma consulta com Dr. Edson, por causa da estranheza de seu textos. Por outro lado, se portar refinamento literário, há de querer conhecer outras obras do autor. Voltemos ao princípio do post...

...o curioso acontecimento narrado na abertura deste texto é apenas um detalhe do livro. O destaque maior da literatura produzida por Amâncio, nesta obra, é a narrativa forte e original (segundo nosso entendimento). Aquela que só brota nas mentes daqueles chutam pra longe as concessões, e que nadam de braçada na autenticidade. Escritor corajoso que não se adentra no reino das palavras preocupado com polidez, agrados ou desagrados a quem quer que seja.
A sua história, provavelmente com algum furor autobiográfico, vale-se de estilo muito próprio ao descrever as agruras de um médico revoltoso que busca dar cabo da própria vida, mas vai barrigando o desfecho,  experienciando situações das mais diversas. E passa pela Rússia, terra natal de um escritor que leu na adolescência e que mudou sua vida para sempre.


Edson Amâncio, além de Dostoiévski, aprecia autores como Tolstoi, Gogol, Machado, João Ubaldo Ribeiro, Lima Barreto, Vargas Llosa, Phillip Roth, Susan Sontag, Paul Auster, Marcelo Mirizola e Marçal Aquino, entre outros. A relação entre distúrbios psíquicos e genialidade é um prato cheio pra este artista da ciência e técnico da literatura. Ele é muito louco... ocê qué vê, experimenta o diário dele.

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